terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Deficiências na Pré-História

O Destino das Pessoas com Deficiência


É muito comum acharmos que, durante os muitos milênios da Pré-História, pessoas muito feridas durante suas atividades diárias de caça, de escaramuças ou mesmo de trabalhos dentro das cavernas, pessoas doentes, convalescentes ou com alguma deficiência seriam alijadas do grupo ou mortas.

No entanto, materiais variados descobertos e analizados por paleontólogos e por paleopatologistas indicam que essa presunção não é verdadeira.

Vejamos, por tópicos, alguns achados que retratam a existência de deficiências no mundo primitivo - desde a Pré-História até os dias atuais.


Deficiências na Pré-História

1. Pythecantropus erectus - Existem poucos ossos do tipo humanídeo conhecido por esse nome científico: uma calota craniana, três dentes, um fêmur e pouca coisa mais. O fêmur apresenta uma espécie de tumor ósseo bem volumoso no seu terço superior, próximo à sua cabeça. Esse sinal de tumor é atribuído pelos cientistas a uma fratura ou a um aneurisma.


2. Homem de Neanderthal - Há ossos do chamado Homem de Neanderthal que apresentam traços de traumatismo. Existe, por exemplo, no úmero esquerdo, uma cicatriz que corresponde a uma lesão séria. No esqueleto desta espécie, descoberto em Krapina, ao norte da Iugoslávia, nota-se um sinal de fratura solidificada na clavícula. O esqueleto descoberto nos arredores de La Chapelle-aux-Saints, na França, mostra sinais de artrite deformante.




3. Homem Cro-Magnon - A espondilose foi encontrada num esqueleto de um homem pré-histórico conhecido como Cro-Magnon. Trata-se de um mal de efeitos muito limitadores, pois a espinha dorsal em geral fica com uma curvatura acentuada, a cabeça inclina-se para a frente e as coxas flexionam-se.



4. Fêmur fraturado - Stephen Chauvet, em sua obra "La Médecine chez les Peuples Primitifs - Préhistoriques et Contemporaines" afirma que o Dr. Raymond Dart - famoso paleontologista australiano - relatou ter estudado um fêmur direito de um homem pré-histórico, encontrado numa gruta de Baye, no Vale do Petit Morin, na França, que havia sido fraturado em seu terço inferior. O fragmento menor tinha sua ponta, na linha áspera e quebrada, solidificada à extremidade baixa do pedaço superior do fêmur, mas com grande desvio. O conjunto era envolvido por uma significativa calosidade óssea de aproximadamente 20 centímetros de circunferência. Desse desvio resultava um considerável encurtamento da perna. É de se notar que ossos provenientes dessa mesma gruta apresentam - quase todos - sinais de osteoartrite de natureza reumática. Segundo alguns cientistas, essa afecção apresenta-se como um real obstáculo à boa solidificação de uma fratura.

5. Freqüência do reumatismo - O reumatismo, em suas mais variadas formas, foi muito freqüente e devastador na Pré-História. Os achados mostram que havia casos que iam desde a chamada osteopatia peri-articular, até a total imobilização do homem primitivo. Um exemplo marcante foi encontrado em ossos do Homem de Neanderthal, descoberto em La Chapelle-aux-Saints, na França. Pela análise dos mesmos, especialistas constataram sinais claros de articulações coxo-femurais com artrite seca e com poli-artrite.

6. Mãos com Dedos em Falta - Há cavernas pré-históricas que mostram a presença de "artistas" que pintaram cavalos, rinocerontes, bisões, cervos, gado vacum, felinos, ursos e outros animais selvagens, com os quais os homens defrontavam-se sempre. Perto de seus desenhos, por vezes encontramos os contornos de mãos, como a registrar: "Eu estive aqui". Até os meados da Década de 80 apenas algumas dessas mãos haviam sido descobertas na Caverna de Gargas, na Espanha. Mas foi no ano de 1985 que Henri Cosquer, um mergulhador profissional, descobriu, perto de Marselha, na França, uma caverna pré-histórica parcialmente submersa, com sua entrada a mais de 35 metros de profundidade. Nela notou-se que havia sinais de ocupação contínua desde mais de 25.000 anos e, além da ilustração de muitos animais, lá estão os claros contornos de mais de 56 mãos, das quais muitas apresentam dedos amputados.



Dúvidas pertinentes

A perda de dedos das mãos deveria significar um problema muito sério nas variadas fases da Pré-História.

No entanto, a mera sobrevivência de indivíduos com lesões sérias, com amputações ou fraturas, já é indicativa clara de um verdadeiro apoio do grupo humano, que permitia sua convalescença e total recuperação.

Notamos na Caverna de Cosquer, por exemplo, um sinal que nos surpreende e que nos faz pensar e levantar questões sem resposta: O que poderia significar, na prática, a perda de dedos, de acordo com ilustrações ao lado, que retratam os casos detectados nos achados da Caverna de Cosquer ou de Gargas? Como essas pessoas assim lesionadas conseguiam desenvolver suas atividades?

(Fotos de Jean Clottes e Luc Vanrell)




De outra parte, se considerarmos casos de fraturas, como conseguiam sobreviver por semanas (meses?) de recuperação dentro de seu grupo? No caso do fêmur acima discutido, como foi possível a esse homem sobreviver, sem participação ativa em caçadas ou atividades que demandavam mais agilidade?



Sua imagem triste, com cabelos longos e desgrenhados, envolta em peles de animais selvagens e apoiada num bastão improvisado, coxeando pelas agrestes e perigosas trilhas de então, num ponto perdido dos milênios da Pré-História, permanecerá em nossa imaginação sem maiores esclarecimentos.


Comunicação ilustrada?

É muito interessante estudar como os grupos humanos desenvolveram esforços para registrar fatos e comunicar idéias, na ausência da linguagem escrita. Essa característica não é exclusiva dos incas, por exemplo, que usavam cerâmicas utilitárias para armazenar água, mas também dos maias, aztecas, chimus e outras raças que existiram na América Latina.

Cientistas têm chegado à conclusão de que gravuras e/ou esculturas de homens pré-históricos em suas cavernas, são muito mais do que meras ilustrações de contornos de animais hoje perfeitamente reconhecidos.

E, comovente como sempre tem sido, as imagens de silhuetas de mãos - muitas mãos em cavernas distantes a centenas de quilômetros umas das outras - pertenceram a pessoas como nós, hoje, no século XXI, como a nos dizer: "Eu estive aqui"."Eu faço parte deste grupo". "Eu moro aqui"."Eu não tenho dedos"...

Essa comunicação ilustrada pode até estar nos informando que, mesmo sem os dedos, o indivíduo vivia naquele meio, da mesma forma que os demais ocupantes da caverna.

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